Monday, December 05, 2005

tão não-amado, entrou devagar na banheira, assim. um pé na água quente, depois outro, então as coxas, cintura, barriga, peito, e mergulhou lentamente, com a cabeça voltada pra trás, e as bolhas saindo, como em câmera lenta do nariz. porque debaixo da água tudo é mais lento. e aquele movimento leve, e aquela água morna de banheira suja, de banheiro velho, de azulejos caindo e revelando passagens secretas nas paredes.

tão não-amado, ele resolveu simplesmente permanecer, no seu não-amor, debaixo daquela água. e isso não era, de forma alguma, qualquer tipo de auto-piedade. tão não era auto-piedade, que, pela primeira vez resolveu ser deveras impiedoso e irredutível. mergulha na água, abre os olhos, e vê as bolhas, e aquela paisagem clara, artificial, acima de seus olhos, com aquela dança fascinante que a água desenha, como se todo aquele mundo fora da banheira fosse apenas um devaneio bonito de lâmpada no espelho, sais, espuma, e todo o resto.

tão não-amado, resolveu que, sinceramente, estava esgotado, e não se permitia mais abrir pra qualquer amor, pois este lhe parecia a coisa mais desnecessária do mundo. não era rancor, era falta de. era falta de rancor, com falta de perspectiva, e principalmente, falta de esperança de ser amado. não tinha sido, não era, não seria, nem em um milhão de anos. e quer saber, meus amores? ele não ligava. tanto não ligava que deitava em seu não-amor, ou numa banheira, ou em algum tipo de desespero, não se sabe bem. e resolveu não subir mais.

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