Monday, December 05, 2005

lingerie.


- Rede? Na cabeça?
- Na cabeça. Eu quero agora, já!
Ela sempre tivera gostos estranhos, sexualmente falando. Começou simples, quase ingênua, com caldas de chocolate e cremes, daí passou diretamente pra vela, e pro chicote, e pro vinil, pras amarras, mordaças, suspensa, de pé, na pia, em lugares públicos, vendo novela, no cinema, no banheiro do shopping. Em parques, praças, casa da avó. Insaciável. E a idéia de ser sufocada, arrebatada com uma rede na cabeça lhe era extremamente agradável.
- Amarra em mim, aperta bem no pescoço. Eu quero sentir o elástico apertando o pescoço. Só pare quando eu estiver azul.
Falava inclinada na cama. As pernas uma por cima da outra, apoiada pelo braço, o cigarro na mão. Era quase vulgar. Quase, mas não chegava a tanto. Francesa, erótica. Adorava se sentir assim. Liberal. Qual era o problema dos homens com as invenções femininas, os caprichos? Na sua concepção, eles deveriam é gostar. Não gostavam, querida. Aliás, diga-se de passagem, os homens conseguem ser as criaturas mais conservadoras do universo. Era por essas e por outras que existiam muitas lésbicas no mundo.
Tragou, soprou.
- Então?
Ele olhou-a confuso. Nunca tinha visto dessas em toda sua vida. Rede? Cabeça? Garganta apertando? Coisa de doida varrida. E era isso que ela era. Da última vez a tinha açoitado. Não confessava, mas sentia extrema pena, até porque não era desse tipo de perversos. Por ele, ficava no trivial eternamente. Carinho, mão, língua, cheiro. Longe de violências. Amor não-violento. Gozariam igual.
-
Você tem que entender que gozar não é uma coisa meramente sexual, meu bem. Gozar é transcender, é grandioso.
Grandiosamente perigoso. Agora, com a rede nas mãos, contemplava-a. Negra, de renda, um uma abertura em elástico, que deveria apertar, e apertar e apertar e apertar. Não toparia. Não. Não gostaria de vê-la correr riscos. Lhe cortava o coração, apesar da plena realização em que ela se encontrava no pós-sexo. Cada fantasia realizada. Ela só não entedia que a fantasia dele era exatamente não ter fantasias. Só queria o básico. Lhe era suficiente.
- Amarra agora.
- Eu não posso fazer isso.
- Você deve fazer isso, amor. Eu quero.
- Você é caprichosa.
- Você gosta.
- Eu detesto.
- Então porque a gente trepa?
- Porque eu gosto de você, simples assim. Gosto e não quero te ver sentindo dor.
- Se você gostasse de mim não se importaria de me ver sexualmente realizada.
- Não é uma questão de ser sexualmente realizada. É uma questão apenas de capricho. Eu não topo.
- E você é egoísta.
- Eu sou generoso. Você é egoísta, louca e anormal.
- Amarra isso na minha cabeça agora, eu não estou pedindo.
- O que você fará se eu não amarrar.
- Não tepo mais contigo.
- E eu choro dois três dias, eu sofro, e depois esqueço.
- Por que você está me desafiando?
- Porque não quero que você sinta dor.
- Não sinto dor, sinto adrenalina.
- E agonia.
- Me dá tesão.
- E me dá repulsa. Acho que não é uma troca justa.
- Então essa será a última vez.
- Como?
- Me come, pela última vez. Amarra isso na minha cabeça, sufoca, bate em mim, despeja toda tua raiva, finge que eu sou um objeto, me morde. E depois não apareça mais.
- Você quer assim?
- não me importaria.
- Como você se tornou tão fria?
- Quando descobri que os homens são dispensáveis. E que eu preciso, na minha vida apenas do meu dinheiro, meu trabalho, minha dignidade, cigarros, coca-cola e sexo.
- Frívola.
- Realista.
- Não: frívola e deprimente. Um dia você se apaixona. Uma dia você se apaixona e sente compaixão do outro, e sente medo de machucar.
- Eu não estou pedindo pra você me matar, querido. Eu não estou pedindo nada impossível, nada que eu não queira realmente
Ela pegou a rede das mãos dele, deitou-se na cama, lânguida, as pernas roçando lentamente pelo edredom. Sorriu, satisfeita, vitoriosa. Suavemente, levou a abertura á cabeça, puxou, sentindo a aspereza da renda no rosto inteiro. Suspirou pelos orifício, apreciando cada segundo daquele prazer. Ele, despido, beijou-lhe o corpo. Entregue. Não adiantava mais lutar contra. Mãos, coxas, braços. O umbigo úmido de sua saliva; língua trêmula.
E quando penetrou-a, puxou lentamente o elástico, estreitando o buraco ao redor do pescoço.E a cada investida puxava mais. Ela arfava, sôfrega; não tanto pelo ar que comaçava a faltar-lhe dos pulmões, mas acima de tudo, de prazer. Subjulgada, intensa, aquela renda no nariz, boca. O vulto do homem pelos poros do tecido, embaçado. Ele puxava mais. As veias saltando do pescoço, cabeça.
Pare. Não. Não pare mais. Não. Pare.
Puxou-lhe os cabelos. Estava tendo exatamente o que queria, naquele misto de angustia, dor, gozo, cheiro de vela e de edredom guardado. Cheiro de pele, suor, dor, dor, angustia, vela. Dor. Sufoca. Pontilhados pretos na visão. Olhos vermelhos.
Suor, corpo, vela, edredom, perna, braço, renda.
E quando ele lhe mordeu o seio sentiu que não teria mais volta. Apertou mais e mais. Mordida. Mais. Mais. Mais. O elástico sobre o pescoço, cortando e marcando a pele, separando a dura veia que saltava. O pontilhado tomou a visão. Deixando tudo meio cinza, meio desbotado. E ele arfava tanto como ela. Nunca tinha-o visto tão animalesco.
Preto.
Ele avança.
Aperta.
Marca.
Preto. Preto.E quando chegou ao orgasmo, sentiu denovo todo aquele cheiro, e toda a presença dele, e todo o quarto a envolvendo, e a maldita luz da vela. E o preto, e o tecido raspando-lhe o rosto, e o edredom outra vez. E, finalmente, aquele preto definitivo.

2 Comments:

Anonymous Anonymous said...

I Feel You.

7:03 PM  
Anonymous Anonymous said...

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9:53 AM  

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