Ah, mas afinal, quem pode nos culpar, não é mesmo? eram os anos oitenta, tudo culpa da década, tudo culpa da geração, já dizem os pesquisadores. eu ia pra oswaldo, naquela nojeira que era a oswaldo em oitenta e um e morria todo dia um pouco lá. todo dia. eu morava bem perto, e morria todo dia naquela calçada. não estudava mais, não trabalhava porque era cômodo, gastava meu dinheiro todo em tinta barata pra pintar em eu amenidades viciantes pra sustentar minhas megalomanias, afinal, eu tinha que ser uma grande estrela. uma mulher grandona, bonita, charmosa, punk, toda punk até o último fio de cabelo. bebia horrores, me chapava de maconha, mas sempre linda, morena, e superior.
cheirava uma, duas três, sete carreiras grossas, do tamanho do meu mindinho. cheirava até me sentir a própria rainha elisabeth. era minha fuga. afinal eu era uma mulher bonita, uma star, uma pintora. na verdade, eu não era nada disso. eu era uma pintora sem criatividade, que chupava frida kahlo, e via minhas amigas lesbas tão criativas, umas arrasando no brasil todo, e expondo nas malditas galeriazinhas que eu tanto desprezava e admirava. e via meus amigos cantando, e via que todos eles, apesar se estarem ali comigo naquela oswaldo de oitenta e um - morrendo que nem cachorros viciados que nem eu - tinham um dom, um projeto e um gancho pra salvar. eu não fui salva, eu parei doida. eu parei enlouquecida atrás de uma carreira. eu parei no meu apartamento lindamente decorado de socialite revoltadinha com a família. parei toda sozinha, tremendo por uma fungada. e cheirei, cheirei e cheirei porque não tinha amor, porque o pedro era um canalha, e não tinha paz. porque não tinha vida, cara. tava fodida. tava fodida com um coração em pedaços e um nariz apodrecido.
mas não fui vítima. não me vitimizem como vítima da geração, porque não fui. eu vitimizei a geração, eu ri nos ideais. eu era uma babaca, mas não vítima.
prazer, meu nome é andréa machado. eu tenho vinte e nove anos. rica, linda, recuperada, pelo menos até agora.
cheirava uma, duas três, sete carreiras grossas, do tamanho do meu mindinho. cheirava até me sentir a própria rainha elisabeth. era minha fuga. afinal eu era uma mulher bonita, uma star, uma pintora. na verdade, eu não era nada disso. eu era uma pintora sem criatividade, que chupava frida kahlo, e via minhas amigas lesbas tão criativas, umas arrasando no brasil todo, e expondo nas malditas galeriazinhas que eu tanto desprezava e admirava. e via meus amigos cantando, e via que todos eles, apesar se estarem ali comigo naquela oswaldo de oitenta e um - morrendo que nem cachorros viciados que nem eu - tinham um dom, um projeto e um gancho pra salvar. eu não fui salva, eu parei doida. eu parei enlouquecida atrás de uma carreira. eu parei no meu apartamento lindamente decorado de socialite revoltadinha com a família. parei toda sozinha, tremendo por uma fungada. e cheirei, cheirei e cheirei porque não tinha amor, porque o pedro era um canalha, e não tinha paz. porque não tinha vida, cara. tava fodida. tava fodida com um coração em pedaços e um nariz apodrecido.
mas não fui vítima. não me vitimizem como vítima da geração, porque não fui. eu vitimizei a geração, eu ri nos ideais. eu era uma babaca, mas não vítima.
prazer, meu nome é andréa machado. eu tenho vinte e nove anos. rica, linda, recuperada, pelo menos até agora.


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