Saturday, July 29, 2006

meu bem,
o céu da tua boca é um labirinto intacto
exploro em segredo
pra que ninguém descubra
que não tem sentido o bastante que caiba
na boca
inteira, cheia
de coloridos perversos
e de relevos impressos
no céu da tua caixa de pandora

abri sem saber
se era como eu pensava
e percorro teu lábio
um corredor


correndo com as arma na mão
dessa vez eu me corto,
espalho com sangue o teu tom

Tuesday, July 25, 2006

"você, esse ciclone,
devasta-me o alto do morro
não deixe nada, nem pedra que sustente
somente eu
como assim, dependurado
por tuas cordas simples,
uma, duas, três
esse mar inteiro
sim, você, você,
que emerge da guanabara


- maremoto."



para quem está longe,
e que merece toda a poesia que eu puder transpirar.

Sunday, July 23, 2006

estou em coma. mas não desses de aparelho e respiração pelas veias. minhas veias, estas não respiram, nem aguentam o terrível soro. meu coma é algo além, é de dentro pra fora, como todos os comas, mas também induzido, Avc. Acidente Vascular Cerebral? Corporal? Cardíaco. Coma, apenas, sem mais porquê, porque não existe a explicação de inércia. Minha cama, esta onde eu deito agora, fui eu quem montei, e quem bateu com a cabeça na parede fui eu. Não é disso que falo, não é de clínica geral, nem de braços entupidos de tubos, de nariz obstruído. Falo de coma como opção. Me fechei, e agora me limpo. Tomo uns vinte banhos, pra sentir minhas impurezas saindo. A minha parte preferida são as sinuzites, quando sangra o nariz, com catarro e coágulos. Nos coágulos eu vejo um pouco do que está podre saindo. Oh, meu doce coma, quando sair, quero sair limpo. Quero aprender a falar! Quero andar outra vez. Não tenho ânimo, minha cama é a mais tenra. A privada, meu travesseiro, quando quero sentir-me limpo, limpo, limpo. Doce coma, coma-me. Até que a nossa preguiça seja catalizadora, e conduza meu sangue ruim pra fora.

que conduza minhas veias pra fora.

que conduza-me todo pra fora

de minha cela encerrada.

Wednesday, July 05, 2006

e com essa mistura de desespero e insônia eu encerro uma página a mais, uma poesia a mais derramada. são tantas que eu perdi a conta. enfim, minha inspiração voltou, junto com algumas canções do jesus and mary chain. escuto todo dia, e elas me fazem presenciar coisas estridentes.
ando estridente. ando tresloucado.
nessas e noutras, minha poesia me leva a caminhar, a caminhar, a me jogar de todos os prédios. ontem me joguei do oitavo andar feliz, estou me jogando como se fossem as quedas salvações. e não das autodestrutivas. na minha existência, a autodestruição só impera em algumas estações. me sinto perto da primavera, enfim. estou me apaixonando por essas músicas e por essas quedas, me apaixonando loucamente por algumas partículas. me apaixono por solos de guitarra e por sestas ao sol, por bebedeiras homéricas, por caminhadas extensas. rindo, sempre.
estou com o riso frouxo. deito na grama, deito no telhado, deito no último andar, sempre o mais perto do céu possível.

Sunday, July 02, 2006

mas se tivesse tentado, teria resultado? oh, sim, resultado, quem quer ver o final do furacão? ninguém entende um final, mesmo quando ele não teve nem início, e meus finais, junto com o teu, o mais doloroso, foram todos prematuros. amor abortado, amor que não vinga. meu amor foi um prato cheio, mas perigoso. é característica minha, talvez. não te amei com moderação, nem peguei na tua mão no cinema. aliás, não fomos. nosso amor, meu amor, teu desamor, minha ilusão - morreram todos antes de começar. não teve nada, só caio fernando abreu lido, sexo, uns cigarros que faltaram. naquele dia nem os cigarros me bastaram, nem eles perduraram. nem cigarro eu tinha, e uma dormência que chegava da boca até os braços. te dei tchau no elevador, e tu dormiu. eu caminhei ainda umas quadras pra chegar à minha cama. talvez foi isso, caminhei, e tenho o péssimo hábito de me distrair quando caminho. devo ter pensado que tu era. não era. não foi, que pena.
não digo que perdôo porque não existe o que se perdoar. somos todos assim, tão sozinhos. não culpo mais, não sinto raiva. o que sobra é apenas a sujeira das bactérias num prato limpo. no meu coração se come, se dorme, se entra, mas sempre haverá uma coisa impreganada. uma coisa bonita, umas coisa que fede, mas que não mata mais. será que você pensou um segundo assim? eu pensei todos os dias durante um ano e meio, até perceber que não amo mais.
um segundo. não te amo mais.
te amo num segundo. um ano e meio, num microlésimo de hora, e tudo some com o último gole no copo. desde lá, feri, perdoei, bati com a cabeça em algumas paredes. mas da dor sobra alguma coisa, nem que seja a embalagem das aspirinas. sei que, desde então, nunca mais deixei que faltassem cigarros, e procurei não caminhar, nem pensar demais.