Wednesday, May 31, 2006

minha poesia toda esvaiu-se de mim como se fugissem os pássaros dessa queimada onde estou imerso. me queima todo, e não tenho mais tanta inspiração quanto deveria. então eu fico cantarolando, e escrevendo alguns versos aleatórios só pra não perder esse viciozinho de escrever. mas a poesia toda, aquela coisa chorosa, essa se foi. só volta quando escuto maysa, e agora escuto o dia todo pra poder viver inebriado vinte e quatro horas.
odeio me sentir firme. odeio.
eu curto mesmo uma dramatização constante, porque canso de insistir em uma poesia gotejante. sejamos realistas, ou não. sejamos surrealistas.

hoje me permito ser surrealista só um pouco. vou ali fora escutar maysa e fumar horrores, marlboro ou camel, daqueles que te fodem os brônquios.

Thursday, May 25, 2006

se quem você é pode ser o que você quer ser, o que me vale ser, então, esse interno? já conheci alguns batalhões que viveram de solidão, e se quem vive pra se conhecer, e quem vive pra se mostrar... são todos iguais. são todos si si si. si mesmos, diferentes, mas sempre o umbigo.

meu umbigo não é mais sujo que o teu porque eu não quero entrar dentro da minha maldita psiquê. se eu mergulhar mais, me afogo. eu sim, eu saio e bebo então, porque mais uma noite refletindo vai me ofuscar a vista. não quero mais, chega. minha pisquê, já diria um meu suposto analista, é uma zorra. não quero me afogar mais nela, chega. não sou superficial, sou fatídico. prefiro então os outros, e as outras, e as minhas próprias células aglomeradas a formar uma pele. minha pele forma minha boca, meu rosto, meus braços. meus dentes, manchados precocemente de nicotina, estes sorriem até, de vez em quando.

mas sou eu. sempre eu eu eu eu. assim como você é sempre você você.

e nós somos sempre nós, pra nós. porque ninguém, na verdade, dá a mínima. então tu mergulha e escreve teus dilemas sobre a carne e o espírito. e eu vivo meus dilemas com a minha carne e meu espírito, todo dia das seis ás duas da manhã, que é a hora que eu vou dormir.

e é tudo igual. o dilema é igual,
o que muda é maneira.

malditos librianos, sempre dados, que nem vadia. prefiro, juro. eu me divirto até na pateticidade da minha existência. eu vou rir disso, e sofrer com isso, e não dar a mínima pra isso, e machucar por isso. minha bagunça incomoda? sim. a tua também. a deles incomodam mais ainda. mas são todas iguais. ninguém vai arrumar.

sabe... eu descobri o que eu estou buscando, ontem, mas não disse. eu sei o que é. e te digo que não é tanto pela estética não, te juro, é só pelo amor. é tudo o que importa, esse malfalado. então sento e espero, brilhando que nem diamante até todo o amor do mundo me levar na sua enxurrada. e tu, senta e espera, até as tuas respostas virem parar nas mãos. é assim que funciona.

usando as armas. as minhas são as minhas. pra abrir. e tu usa as tuas pra fechar.

mas todos nós choramos quando vem a chuva, amor, e todos esperamos a enxurrada aparecer. de sentimento, de respostas, da putaqueopariu. acreditamos que esse rio vai colocar a gente no devido lugar e morreremos tentando, sempre, de intra e extra, todos os dias.

nossa resposta é ainda mais simples.

Saturday, May 20, 2006

sei que morro, no final. todos morrem no final, mas eu morrerei de uma forma mais ferina. eu morrerei como a ponta da lâmina a perfurar lentamente a pele, pressionando, para somente então penetrar num estalo, fazendo sangue transbordar. sei que morro, e quando eu morrer, transbordarei, e será sangue por todos os lados. terá lágrima, dor e ranger de dentes. de uma pessoa apenas. escrevendo isso, agora, quase choro, mas prefiro me controlar. não chorarei mais por fantasia, prefiro chorar pelos fatos. a vida é doce, me bem, a vida é um caramelo grande, que a gente come até engasgar e perfurar. e morrer.

sei que morro de precipício, ou de roda de caminhão, jamais de heroína por que tenho medo de agulhas. jamais de pó com wiskey porque não bebo. talvez morra de doença, ou me tranforme em ferida, essa, a secretar e a segredar, quieta. a minha ferida toda cala, minha ferida toda espreita, e só faz jorrar segredo. hoje, sou pura lamentação, e só penso em epitáfio.

ultimamente.
esse ano, na verdade. só penso que morro, e quando morro me jogo, e quando caio eu evaporo, e quando evaporo eu me espalho pelo universo.

sei que morro de tudo.

morro de cólera, de infecção contagiosa, de alastro.
sei que morro.
mas não de amor, jamais.

porque amor não tive o bastante
que faça matar.

Friday, May 19, 2006

oh, e como era bonita a visão do vértice. ali, nós três. vocês dois uma reta, de braços unidos. Uma reta, até eu aparecer, de braços abertos e diagonais, e formamos nosso elo geométrico. Três, três. Como é cabalístico o número três. A música três do nosso disco era sempre a melhor. Três pratos de trigo para três tigres tristes.

Procurava, insone, naquelas noite em que meu corpo era mais que um expoente, mas uma junção com os vossos. nossos. nossos três, numa cama tão quente que chegava a sublimar. éramos naftalina evaporando aos poucos nos vossos aramados tecidos de linha tão vagabunda. éramos pouco luxo, nós três. éramos pelo raso, pelo fútil, pelo pinga e pela oração bandida aos nosos próprios santos. e rezávamos sempre, todos os dias, pedindo a afrodite ou a hera, à luxúria ou a ira, na nossa junção satânica. o que a igreja diria? ... então recorríamos aos deuses gregos, estes assim, tão sem preconceitos. adoro a grécia. comecei a gostar mais ainda depois que descobri o um mais dois, o dois mais um. o um, mais um, mais outro. nunca duvide da matemática, meu amor.

nossa ciência exata, nós três. ah, deus. a música três era sempre a mais sonora. mas não era somente música, nem somente gozo, nem somente isso. tinha uma coisa do vértice mesmo, das três retas. éramos pontos, e nossos corpor eram retas. e dentro não era vazio. éramos um sólido, não apenas a forma, mas ali dentro, um mar preenchido, tão instável.

naufragávamos pela tarde. regatávamos nossa sobrevivência à noite.

adorava aqueles dias, de vocês dois divagando, no nosso covil enquanto eu lia. ou quando eu divagava e outros liam. ou quando todos liam, e ninguém divagava; e todos divagavam freneticamente sobre nós. e toda rua comentava.

despudorados!

o que deus pensaria de nós? então, deixa que afrodite nos abrace. deixa esse teu deus lá fora, e guarda teu missal pra mais tarde. pega a janta, e que bebamos um vinho grosso qua transborda na boca. hoje, queridos... hoje é tudo que resta, porque alguns casam, e alguns crescem, e não temos mais dezoito anos, nem aquele pensamento revolucionário. as pessoas prendem o choro, e prendem a alma.

na minha vida, sem geometrias. gosto de literatura. queimei meus livros de matemática e joguei pela janela no nosso último encontro. éramos pelo amor, mas crescemos. e eu amava, e vocês também, loucamente, e como amávamos. e como nos embriagávamos de veneno.

me embriago de veneno, então, mas não morro. afinal, eu lembro toda vez, pelo menos quando vejo algo à nossa forma na rua. doritos. fomos reduzidos a isso, farelo em pacote de criança. hoje somos régua de cálculo e canto de encruzilhada. canteiro, brinco de mulher a reluzir. somos somente a forma que nos lembra.

oh, jamais duvide das geometrias.

Tuesday, May 16, 2006

"
sofro de paixão elis regina. de me arrastar, de arranhar e me agarrar nos teus cabelos. toda vez que escuto, choro, inevitável. eu sei, estou te contando isso em momento inapropriado, mas não leve a mal, não sou esse monstro não. não tenha medo do meu gigantismo, da minha projeção. estou sendo sincero, cara, como eu gostaria que fossem comigo. te aviso de antemão, mas não com palavras, e sim com intenções, que agora te desejo tanto que tu nem consegue imaginar. sim, te desejo de uma maneira fenomenal, uma coisa de carência talvez... mas também não quero entrar em detalhes, nem te contar minhas façanhas desastrosas, das traições, das decepções. sei que te desejo, e sofro dessa coisa machadiana, dessa coisa antiga. me pego tendo delírios românticos horrorosos e bregas. eu sou brega, já te disse? até escrevi teu nomezinho numa folha de caderno com o meu, e um coração ao redor, coroando nosso amor eterno. te desejo tanto, que morro de ciumes daquele lá, aquele que te tenta e que, talvez, não saia da tua cabeça. imaginar que tu não pensa em mim assim como eu penso em ti todos os dias me mata. esses dias eu li um livro que tu me indicou e que eu detestei, mas li até o fim, só pra te satisfazer. oh, e como sou submisso ás tuas vontades. te faço tudo, te agrado, te agarro, tesu cabelos, teu pijama nos teus pés ao pé da cama. te adorando pelo avesso.

pra provar que sou teu e teu.

então só te peço uma palavra e me calo logo em seguida. sim, não. nenhum talvez o talvez mastiga meu cérebro, ele acaba comigo. se tu me quiser, me diga. se não me quiser, então não morrerei. não será a primeira vez. mas também não penso em me reerguer soberano, nem voltar das cinzas como fênix. quero calar sozinho, e sentar atrás de ti num ônibus, massacrando-me. por um tempo. um mês, dois, sofrendo desse amor elis regina, para beber um pouco mais e fumar uns cigarros."

digo tudo isso em silêncio, antes de você me deixar em casa.

Monday, May 15, 2006

na verdade
é tudo
auto
sabo
tagem.

Saturday, May 13, 2006

se você não atende meu telefonema às cinco da manhã, eu juro, eu juro por tudo isso que é mais sagrado, que te empalo. Desculpe meus atentos violentos, mas é que, poxa, né? Eu não aguento mais ser chamado de desequilibrado, que vão me internar e meter uma borracha gordurosa e fedida na minha boca, de maxilares cansados de tanto ranger os dentes. Essa borracha que vai atrofiando meus nervos para calar minha boca e me livrar de convulsões. Oh, meu deus, você quer isso pra mim? Você quer que eu convulsione no meu quarto? Eu, que... não. Não me faço de vítima, benzinho. Pára, me escuta! Chega! Não, não ligue pra esse meu ímpeto, já passou, isso, veja como eu respiro agora tranquilo, ritmado... Um, dois, três quatro. Quatro minutos desde que você me deu às costas e eu fiquei aqui, sem porto e sem bóia, sem navio pra afundar junto. Afundo sozinho, então. Deixa eu te ligar hoje, quando eu quiser, esteja disponível. Não vire-se assim. Espera, olha, estou com as mãos no teu ombro, as duas, pra enfatizar minha angústia pra que fiques!
Não vá mais! Ou então pode ir. Eu que sou sempre a vítima, não é mesmo? Juro que me vingo, que quando te pegar com outro na Redenção, jogo uma barraca toda de pipoca na tua cabeça. Oh, agora eu acho uma dádiva ser esse desequilibrado que julgas. Não tenho mais limites, não é mesmo? E isso é A DÁDIVA. Eu quero correr de cima a baixo e me jogar do penhasco dos teus cabelos. Não me venha dizer que é autodestruiçao. Você já sentiu, meu amor, a paixão te esquentando as veias? Algum dia, um ínfimo? Um segundinho? E você já sentiu o sopro glacial de um abandono?
Só quem é abandonado sabe, e você não liga, porque vai sair com seu carro desse bar, onde eu sou um estorvo escandaloso te puxando pelos ombros e chegar em sua casa pra tomar um banho longo e quente enquanto me censura por ser tão passional. Eu, quando chegar em casa, não tomarei banho e nem tomarei em absoluto durante alguns dias, até que eu resolva adentrar a banheira pra te espantar. Pra tirar teu cheiro. Porque durante uns três dias a única coisa que me restará é o resquício mofado do teu casaco na minha mão.