Monday, April 23, 2007

"esse final verdeiro. esse grito que ninguém quer dar, esse verso que ninguém tem coragem de cantar. cantei. o final verdadeiro de tudo que começa como um olhar que não vem como espada, mas como presente forjado, de mágoa ao avesso, de transe, de boca demais. o final verdadeiro das noites e das palavras, entoei. cantei as palavras, amaldiçoando o começo, como que pra me livrar do pesar do final. o final, do medo, que eu senti quando te digo sempre adeus. redimir-me da culpa e ser um pouco mais pesadelo, deixar-me ser ser megera, ser puta, ser difamado, ser o que também te trouxe o veneno - doce - e letal dessa sentença chamada amor.
e cantar, cantar, dizer que eu sofro às vezes, muito, que eu choro pra caralho, que eu, na verdade, adoro vitimizar. me perguntam sempre: filipe, porque você não toca samba? não toco samba porque minha bossa é um pouco mais tensa, e onde eu vivo faz frio, e tem violinos nos tetos. daqueles agudos. da minha vida, o que levo, são os acordes agudos anunciando esse final, efêmero. final verdadeiro. e cantar meus dramas? eu canto. e a platéia que chore, e os dentes que doam, e o coração que se esprema. no meu palco, falta confete. à platéia, meu desdém. cantar é minha vingança."

filipe catto
24 de abril de 2007.