Tuesday, December 27, 2005


momento escreva uma bobagem poética no seu blog:


você me faz morrer, e não docemente
sua presença me remete ao tédio
suas mãos são icebergs
por favor não encoste em mim
pelo menos agora
não quero tua boca, muito menos o teu toque
e muito menos você ao meu redor
eu juro que hoje te daria um tiro
se tivesse uma arma por perto
desculpe, amor, estou com raiva dos teus silêncios e do teu pouco caso
eu te mataria sem dó
cada vez que você desse uma desculpa
eu continuo com pânico da tua cara estúpida quando cita trechos de seus poetas
você me faz morrer
de tão patético
engole essa vodka agora,
eusei que disso você gosta
e quando o garçom chegar, pra você eu peço todo o amor que puder encontrar e todo resto
e pra mim, outra noite só de marlboro e jazz
e fica tudo assim
acertado, resolvido, destinado,
em pratos limpos


Thursday, December 22, 2005

odeio muito o calor. só.
odeio verão, odeio praia, odeio natal, ainda mais quando
não ganharei presente este ano. não quis nada. odeio
roupa, adoro cd, mas ja tenho todo que me interessam.
mau humor do cão.

Tuesday, December 20, 2005

não usarei sexo como arma
nem fingirei intelecto
não falarei de meus discos raros
nem de meus livros
não rirei de piadas sem nexo
nem farei um ar blasé
não fingirei superioridade por defesa
não vou mentir não me envolver

não usarei charme,
não vou me valer de beleza
não serei nada sexy
não terei pudor
não medirei palavras
controlarei o que eu sinto
serei o mais frívolo possível
terei medo, desta vez

não tomarei mais um drink
não falarei de chico buarque
não comentarei as minhas cenas favoritas de filmes
não vai haver bertolucci, não vai haver godard
não divagarei sobre o existencialismo
nem farei auto-análises

prometo não tomar um porre às dez horas da manhã
prometo tentar parar de fumar de verdade
prometo ser mais focado
eu quero

são minhas resoluções de ano novo
são minhas resoluções de ano novo
são minhas resoluções de ano novo
são minhas resoluções de ano novo
são minhas resoluções de ano novo
são minhas resoluções de ano novo
são minhas resoluções de ano novo
são minhas resoluções de ano novo

"de todas as coisas que eu te peço,
de todas as tuas notas
de todos os teus cheiros,
de tudo isso, de tudo um pouco
só não me deixe sem suas palavras
não me deixe sem suas promessas
ou as músicas que escutamos
ou a sala vermelha - de não-luxuriosa, não-obcena
e de puro intenso
onde te espero prometer mais que não me deixará sem seus olhos
percorrendo cada centímetro do meu rosto
explorando-me
ou a tua boca na minha nuca
trêmula
não me deixe sem suas mãos
ou seu nariz contra o meu
sua respiração
que quero sempre, e suas juras
rosto, boca e vermelho
olhos, nariz, e a sala
música, o chão e as mãos
teu terno
quero o cigarro, e os dedos na minha nuca

quero te ver"

Wednesday, December 14, 2005


ela tomou aquele ácido eram duas da manhã, e já eram cinco. não passara o efeito em hipótese alguma. ok, ok. eram os anos 90, o ácido não estava na moda. os amigos todos estavam afundados na cocaína. ela preferia o estilo retrô. preferia pensar que eram os 60´s, e que estava escutando janis joplin, summertime, em algum boteco com seus amigos/estudantes/miltantes/quelutavampelacausadaditaduraeerampresos e tal. a verdade é que o que tocava na hora era uma banda cover de nirvana, em um bar tão sujo quanto o boteco mencionado. e ela estava ficando bastante alterada.
fumava seu cigarro quando escutou a voz:
mariana.
no momento estava no banheiro, mais precisamente, ao vaso. tudo turvo, tudo colorido. e o espelho, quebrado nos cantos, como de praxe em todo lugar junkie que se prese, acusava uma imagem que não era nem de longe a sua. uma menina pálida, linda, gótica. olhos devidamente borrados e boca devidamente carnuda. sua amiga, letícia. a que tinha se matado ano passado. depressão, coitada. sofria muito. era a vítima do mundo. cocaína. rock. deu um tiro na cabeça por não aguentar ser letícia, promíscua-vicada-louca, e blá blá blá.
mariana?
relutou. covarde, encolheu-se contra a parede, num sobressalto. as unhas pressionando os joelhos fortemente.
não tenha medo, mariana. sou eu.
quem?
letícia.
não sei quem é você. você está morta.
não me venha com esse papinho redundante. isso eu sei.
o que você está fazendo aqui?
quero te dar um aviso.
que aviso?
deixe de tantas perguntas, por favor. tenho que te dar um aviso, foi o senhor que me mandou.
desde quando você acredita em deus, letícia?
desde que eu me matei. e vi, e tal.
o que ele tem pra me contar?
ele me mandou aqui pra te dizer que você está esperando um filho.
eu?
você.
de quem?
dele.
tipo maria?
igual.
tipo parir jesus?
exato.
não pode ser!
mas é. e te prepara, que este filho será o messias, igual ao outro.
mas por que eu?
não sei. deve ser algo de outras vidas e tal. é muito frequênte esse negócio de outras vidas aqui em cima e tal. as pessoas vivem carregando fardos. o teu, querida, é parir o messias.
não estou preparada, letícia.
mas tem que estar. o senhor te escolheu. se ele te escolheu é porque você é especial, amiga. aproveita e te joga na salvação.
mas eu tenho 17 anos. não tenho condições de ter um filho. muito menos um com um pai onipresente e onipotente.
sobre o lance de estar preparada ele te mandou um recado: vire-se.
mas...
sem mas. tenho que ir.
mas...
adeus.
a imagem desvanesceu-se naquele momento, fragmentando-se em pequenos faxos de luz que iam implodindo até sobrar nada, como uma estrela que morre. pegou suas coisas, confusa. na bagunça, a bolsa caíra no chão, derramando por todo piso batom, perfume, carteira e cigarro. ajoelhada, tensa, trêmula, pegou coisa por coisa e guardou. saiu, foi pra casa de taxi. não falou sobre isso com ninguém. não tocou mais no assunto.
no taxi, amriana alisava a barriga. filho. filho. filho, era somente o que pensava. e crianças, e aquela bobagem toda de ser maria. e a santíssima trindade, obviamente.
sempre odiara esse papo idiota de igreja e cordeiro de deus.
e hosana nas alturas.
letícia anjo de luz?
o céu deve estar desabando.
letícia = anjo de luz (?)
mariana = mãe do filho de deus (?)
e no taxi lhe ocorreu que aquilo tudo poderia ser apenas uma alucinação efeito do ácido. nada mais típico. bad trip. só podia.
e se?
por via das dúvidas, mandou o motorista parar numa farmácia no caminho, e comprou com o dinheiro que restava-lhe, a pílula do dia seguinte.

Sunday, December 11, 2005

não, a vida não é uma merda. não, o sinal não abre quando você quer atravessar a rua. não, seu show não é uma bsta quando tem menos da metade das pessoas no garagem hermética. não, pessoas doces não são extintas.

sim, o show foi ótimo. sim, a vida é ótima. sim, eu atravessi três avenidas seguidas sem precisar parar. e talvez o amor de fato não exista, mas pessoas doces, mesmo, docíssimas, existem de verdade.

não acreditava mais.
mas têm.

Friday, December 09, 2005

hoje, dentro de uma sala com paredes acolchoadas, cabos, microfones, um computador e todos os apetrechos feitos para registrar som, tive, de repente, um insigt do que seria minha vida inteira, e juro, nada poderia me deixar mais feliz. assim, simplório, vendo meu baixista trocar as cordas do intrumento, ou vendo o alemão ajustar microfones, eu observava tudo tão absorto, tão fascinado. é incrível como todo esse processo me encanta. esqueci até do cigarro. esqueci do calor, e do meu sono terrível de pessoa que anda fazendo coisas demais. ando sublime com tudo isso.

é que pela primeira vez na minha vida, estou vendo a verdadeira beleza de todo o processo. a guitarra suja, o baixo. o erro de tempo da bateria. piano, ah, o piano. todos eles desabafos. meus. desabafos pessoais, de uma pessoa ignorantemente angustiada, constantemente não-satisfeita, constantemente agraciada. não agraciada, porque ando ralando muito. mas eu sei que tenho, no mínimo, um pouco de sorte de fazer show de estréia no ocidente, pelo menos.

duas bandas, muitos ensaios, algumas sessões de gravação, algumas composições em noites insones. shows memoráveis.


ando me sentindo feliz e satisfeito na maioria do tempo, atualmente. toda essa abundância de musicalidade. pesquisa. escutar bjork prestando atenção nos mínimos detalhes e testar timbres. futricar na guitarra. misturar notas de piano. músicas pseudo-conceituais com caio fernando abreu sendo declamado.

fico feliz, de saber, aos 18 anos, o que eu quero fazer do resto dos meus dias.

Tuesday, December 06, 2005

querido diário me sinto aliviado porque terminei minha prova de finanças e fui bem e hoje não precisarei fazer um trabalho que eu deveria fazer pois fiz um troca justa fiz um outro há um tempo e as gurias do grupo vão fazer este por mim estou feliz e aliviado preciso de férias rápido rápido rápido.

sábado eu tenho show no garagem e domingo eu não faço nada e segunda também não até quarta na prova final de mercadologia em que eu espero realmente passar e ter um descanso, pelo amor de deus.

Monday, December 05, 2005

lingerie.


- Rede? Na cabeça?
- Na cabeça. Eu quero agora, já!
Ela sempre tivera gostos estranhos, sexualmente falando. Começou simples, quase ingênua, com caldas de chocolate e cremes, daí passou diretamente pra vela, e pro chicote, e pro vinil, pras amarras, mordaças, suspensa, de pé, na pia, em lugares públicos, vendo novela, no cinema, no banheiro do shopping. Em parques, praças, casa da avó. Insaciável. E a idéia de ser sufocada, arrebatada com uma rede na cabeça lhe era extremamente agradável.
- Amarra em mim, aperta bem no pescoço. Eu quero sentir o elástico apertando o pescoço. Só pare quando eu estiver azul.
Falava inclinada na cama. As pernas uma por cima da outra, apoiada pelo braço, o cigarro na mão. Era quase vulgar. Quase, mas não chegava a tanto. Francesa, erótica. Adorava se sentir assim. Liberal. Qual era o problema dos homens com as invenções femininas, os caprichos? Na sua concepção, eles deveriam é gostar. Não gostavam, querida. Aliás, diga-se de passagem, os homens conseguem ser as criaturas mais conservadoras do universo. Era por essas e por outras que existiam muitas lésbicas no mundo.
Tragou, soprou.
- Então?
Ele olhou-a confuso. Nunca tinha visto dessas em toda sua vida. Rede? Cabeça? Garganta apertando? Coisa de doida varrida. E era isso que ela era. Da última vez a tinha açoitado. Não confessava, mas sentia extrema pena, até porque não era desse tipo de perversos. Por ele, ficava no trivial eternamente. Carinho, mão, língua, cheiro. Longe de violências. Amor não-violento. Gozariam igual.
-
Você tem que entender que gozar não é uma coisa meramente sexual, meu bem. Gozar é transcender, é grandioso.
Grandiosamente perigoso. Agora, com a rede nas mãos, contemplava-a. Negra, de renda, um uma abertura em elástico, que deveria apertar, e apertar e apertar e apertar. Não toparia. Não. Não gostaria de vê-la correr riscos. Lhe cortava o coração, apesar da plena realização em que ela se encontrava no pós-sexo. Cada fantasia realizada. Ela só não entedia que a fantasia dele era exatamente não ter fantasias. Só queria o básico. Lhe era suficiente.
- Amarra agora.
- Eu não posso fazer isso.
- Você deve fazer isso, amor. Eu quero.
- Você é caprichosa.
- Você gosta.
- Eu detesto.
- Então porque a gente trepa?
- Porque eu gosto de você, simples assim. Gosto e não quero te ver sentindo dor.
- Se você gostasse de mim não se importaria de me ver sexualmente realizada.
- Não é uma questão de ser sexualmente realizada. É uma questão apenas de capricho. Eu não topo.
- E você é egoísta.
- Eu sou generoso. Você é egoísta, louca e anormal.
- Amarra isso na minha cabeça agora, eu não estou pedindo.
- O que você fará se eu não amarrar.
- Não tepo mais contigo.
- E eu choro dois três dias, eu sofro, e depois esqueço.
- Por que você está me desafiando?
- Porque não quero que você sinta dor.
- Não sinto dor, sinto adrenalina.
- E agonia.
- Me dá tesão.
- E me dá repulsa. Acho que não é uma troca justa.
- Então essa será a última vez.
- Como?
- Me come, pela última vez. Amarra isso na minha cabeça, sufoca, bate em mim, despeja toda tua raiva, finge que eu sou um objeto, me morde. E depois não apareça mais.
- Você quer assim?
- não me importaria.
- Como você se tornou tão fria?
- Quando descobri que os homens são dispensáveis. E que eu preciso, na minha vida apenas do meu dinheiro, meu trabalho, minha dignidade, cigarros, coca-cola e sexo.
- Frívola.
- Realista.
- Não: frívola e deprimente. Um dia você se apaixona. Uma dia você se apaixona e sente compaixão do outro, e sente medo de machucar.
- Eu não estou pedindo pra você me matar, querido. Eu não estou pedindo nada impossível, nada que eu não queira realmente
Ela pegou a rede das mãos dele, deitou-se na cama, lânguida, as pernas roçando lentamente pelo edredom. Sorriu, satisfeita, vitoriosa. Suavemente, levou a abertura á cabeça, puxou, sentindo a aspereza da renda no rosto inteiro. Suspirou pelos orifício, apreciando cada segundo daquele prazer. Ele, despido, beijou-lhe o corpo. Entregue. Não adiantava mais lutar contra. Mãos, coxas, braços. O umbigo úmido de sua saliva; língua trêmula.
E quando penetrou-a, puxou lentamente o elástico, estreitando o buraco ao redor do pescoço.E a cada investida puxava mais. Ela arfava, sôfrega; não tanto pelo ar que comaçava a faltar-lhe dos pulmões, mas acima de tudo, de prazer. Subjulgada, intensa, aquela renda no nariz, boca. O vulto do homem pelos poros do tecido, embaçado. Ele puxava mais. As veias saltando do pescoço, cabeça.
Pare. Não. Não pare mais. Não. Pare.
Puxou-lhe os cabelos. Estava tendo exatamente o que queria, naquele misto de angustia, dor, gozo, cheiro de vela e de edredom guardado. Cheiro de pele, suor, dor, dor, angustia, vela. Dor. Sufoca. Pontilhados pretos na visão. Olhos vermelhos.
Suor, corpo, vela, edredom, perna, braço, renda.
E quando ele lhe mordeu o seio sentiu que não teria mais volta. Apertou mais e mais. Mordida. Mais. Mais. Mais. O elástico sobre o pescoço, cortando e marcando a pele, separando a dura veia que saltava. O pontilhado tomou a visão. Deixando tudo meio cinza, meio desbotado. E ele arfava tanto como ela. Nunca tinha-o visto tão animalesco.
Preto.
Ele avança.
Aperta.
Marca.
Preto. Preto.E quando chegou ao orgasmo, sentiu denovo todo aquele cheiro, e toda a presença dele, e todo o quarto a envolvendo, e a maldita luz da vela. E o preto, e o tecido raspando-lhe o rosto, e o edredom outra vez. E, finalmente, aquele preto definitivo.

tão não-amado, entrou devagar na banheira, assim. um pé na água quente, depois outro, então as coxas, cintura, barriga, peito, e mergulhou lentamente, com a cabeça voltada pra trás, e as bolhas saindo, como em câmera lenta do nariz. porque debaixo da água tudo é mais lento. e aquele movimento leve, e aquela água morna de banheira suja, de banheiro velho, de azulejos caindo e revelando passagens secretas nas paredes.

tão não-amado, ele resolveu simplesmente permanecer, no seu não-amor, debaixo daquela água. e isso não era, de forma alguma, qualquer tipo de auto-piedade. tão não era auto-piedade, que, pela primeira vez resolveu ser deveras impiedoso e irredutível. mergulha na água, abre os olhos, e vê as bolhas, e aquela paisagem clara, artificial, acima de seus olhos, com aquela dança fascinante que a água desenha, como se todo aquele mundo fora da banheira fosse apenas um devaneio bonito de lâmpada no espelho, sais, espuma, e todo o resto.

tão não-amado, resolveu que, sinceramente, estava esgotado, e não se permitia mais abrir pra qualquer amor, pois este lhe parecia a coisa mais desnecessária do mundo. não era rancor, era falta de. era falta de rancor, com falta de perspectiva, e principalmente, falta de esperança de ser amado. não tinha sido, não era, não seria, nem em um milhão de anos. e quer saber, meus amores? ele não ligava. tanto não ligava que deitava em seu não-amor, ou numa banheira, ou em algum tipo de desespero, não se sabe bem. e resolveu não subir mais.

"nothing special, baby, não estou louca nem bêbada, estou é lúcida pra caralho e sei claramente que não tenho nenhuma saída, ah, não se preocupe, meu bem, depois que você sair tomo banho frio, leite quente com mel de eucalipto, ginseng e lexotan, depois deito, depois durmo, depois acordo e passo uma semana a blanchá e arroz integral, absolutamente santa, absolutamente pura, absolutamente limpa, depois tomo outro porre, cheiro cinco gramas (...) e alugo a cabeça de um panaca qualquer choramingando coisas do tipo preciso-tanto-uma-razão-para-viver-e-sei-que-essa-razão-só-está-dentro-de-mim-bababá-bababá e me lamurio até o sol pintar atrás daqueles edifícios sinistros, mas não se preocupe, não vou tomar nenhuma medida drástica, a não ser continuar, tem coisa mais auto-destrutiva do que insistir sem fé nenhuma?"

caio fernando abreu.

simplesmente porque me traduz. oi, meu nome é filipe catto.