Monday, June 11, 2007

nesses dias prefiro nem saber que horas são
e nem levanto, afinal
horas por horas... que hora seria a hora de parar?
tomar um banho?
banho, como que pra tirar essa coisa salgada, com gosto de não-sei-o-quê
que besunta a noite, o dia, quando não acordo e não durmo
dias esses em que não se acorda,
porque é insuportável o cheiro do mar
e é insuportável também sair dele
é insuportável comer,
e parar de.
fumar é o que nos consola,
e a insônia se perpetua o dia inteiro,
dia esse que não tem fim, nem meio,


e a gente se dói porque é mais fácil doer inerte
que fingir não ver a barragem cedendo
e o mar, o insuportável mar, varrendo tudo o que tinha

sou o fundo do mar
estou lá embaixo, o chão
sou o chão
sou o menor grão das minhas incontáveis horas
que horas são?
o mar veio a mim como penitência ao meu pecado original de existir
e no meu repouso, sou, do fundo, o lodo
numa imensidão azul, repouso,
num não-respirar, eu deito
num não-ser, sendo,
existindo,
lá embaixo
e o peso do oceano testemunhando a preguiça e o desconforto
de olhar pro lado e ver o dia
e ver as horas
e levantar.