Monday, July 09, 2007

"- Pode ser, mas. Suponhamos. Eu já vivi isso. E se realmente gostarem? Se o toque do outro de repente for bom? Bom, a palavra é essa. Se o outro for bom pra você. Se te der vontade de viver. Se o cheiro do suor do outro também for bom. Se todos os cheiros do corpo do outro forem bons. O pé, no fim do dia. A boca, de manhã cedo. Bons, normais, comuns. Coisa de gente. Cheiros íntimos, secretos. Ninguém mais saberia deles se não enfiasse o nariz lá dentro, a língua lá dentro, bem dentro, no fundo das carnes, no meio dos cheiros. E se tudo que você acha nojento for o que se chama de amor? Quando você chega no mais íntimo. No tão mais íntimo, tão mais íntimo que de repente a palavra nojo não tem mais sentido.(...) Amor no sentido de intimidade, de conhecimento muito, muito fundo. Da pobreza e também da nobreza do corpo do outro. Do teu próprio corpo que é igual, talvez tragicamente igual. (...) O que vale é ter conhecido o corpo de outra pessoa tão intimamente como você só conhece o seu próprio corpo. Porque então você se ama também."

caio fernando abreu





é engraçado quando alguém que nunca soube da tua existência de repente transcreve todo teu conceito filosófico sobre a coisa mais abstrata do mundo em um livrinho, comprado por acaso num aeroporto, e lido numa fila do consulado americano.