veja bem, meu amor. veja como tudo isso é irônico, não é mesmo? estamos aqui, nessa sala. essa sala que já tem tantas histórias, histórias nossas, revirando um baú de mágoas. quem diria... quem diria mesmo. por essas e por outras que eu chego à conclusão que paixão e mágoa é tão parecido, e que na verdade é tudo um desespero. como assim, desespero, tu me pergunta?ah, tu me conhece bem, sabe que exagero. desculpe, desespero não, é uma leve agonia. uma frustraçãozinha de nada. um grãozinho de areia. até porque, somos cordiais, somos filhadaputamente educados, polidos. superficiais, de longe, e não vamos admitir aquele pranto, cada um de um lado do telefone.
não é permitido.
hoje em dia, meu amor, é tudo uma questão de manter as aparências. por isso mesmo sentamos aqui e conversamos. o tempo, as saudades. tu me fala da tua baboseira pretenciosa, e eu rio. ah, se rio. rio espontâneo até, é incrível. eu te adoro, cara. adoro teu senso de humor. você é ótimo. você é magnífico, e talentoso, e que bom, que bom que somos amigos até hoje, né?
afinal temos maturidade. e discernimento, e educação e hipocrisia. um beijo. me despeço recusando seu convite pra outra xícara de café, estou atrasado. a gente não se olha tão fundo mais porque se a gente se olhar, meu amigo, se a gente se olhar bem no olho será vergonhoso demais. será uma explosão, será, talvez, mais do que nossa rasa hipocria poderia suportar, e a gente não quer isso, não é mesmo, meu bem?
por favor, manda um abraço pra rosa, que saudades dela.